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Depressão
Depressão é uma desordem psiquiátrica
muito mais freqüente do que se imaginava. Estudos recentes mostram
que 10% a 25% das pessoas que procuram os clínicos gerais apresentam
sintomas dessa enfermidade. Essas porcentagens são semelhantes
ao número de casos de hipertensão e infecções
respiratórias que os clínicos atendem em seus serviços.
Ao contrário dessas doenças, entretanto, eles não
costumam estar preparados para reconhecer e tratar depressões.
Para caracterizar o diagnóstico de depressão, foi criada
a tabela de abaixo. Nela, cinco ou mais dos sintomas relacionados devem
estar presentes. Dentre eles, um é obrigatório: estado
deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias,
há pelo menos duas semanas.
Critérios para diagnóstico de depressão
(Segundo o DSM-IV, Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders, 4ª edição).
· Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;
· Anedônia: interesse diminuído ou perda de prazer
para realizar as atividades de rotina;
· Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
· Dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente
diminuída para pensar e concentrar-se;
· Fadiga ou perda de energia;
· Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia
praticamente diárias;
· Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;
· Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de
regime alimentar;
· Idéias recorrentes de morte ou suicídio.
De acordo com o número de itens respondidos afirmativamente,
o estado depressivo pode ser classificado em três grupos;
1) Depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas
ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou anedônia;
2) Distimia: 3ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido,
durante dois anos, no mínimo;
3) Depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas
semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedônia.
Os sintomas da depressão interferem drasticamente com a qualidade
de vida e estão associados a altos custos sociais: perda de dias
no trabalho, atendimento médico, medicamentos e suicídio.
Pelo menos 60% das pessoas que se suicidam apresentam sintomas característicos
da doença.
Embora possa começar em qualquer idade, a maioria dos casos tem
seu início entre os 20 e os 40 anos. Tipicamente, os sintomas
se desenvolvem no decorrer de dias ou semanas e, se não forem
tratados, podem durar de seis meses a dois anos. Passado esse período,
a maioria dos pacientes retorna à vida normal. No entanto, em
25% das vezes a doença se torna crônica.
Fatores de risco para depressão
· História familiar de depressão;
· Sexo feminino;
· Idade mais avançada;
· Episódios anteriores de depressão;
· Parto recente;
· Acontecimentos estressantes;
· Dependência de droga.
O número de casos entre mulheres é o dobro dos homens.
Não se sabe se a diferença é devida a pressões
sociais, diferenças psicológicas ou ambas. A vulnerabilidade
feminina é maior no período pós-parto: cerca de
15% das mulheres relatam sintomas de depressão nos seis meses
que se seguem ao nascimento de um filho.
A doença é recorrente. Os que já tiveram um episódio
de depressão no passado correm 50% de risco de repeti-lo. Se
já ocorreram dois, a probabilidade de recidiva pode chegar a
90%; e se tiverem sido três episódios, a probabilidade
de acontecer o quarto ultrapassa 90%.
Como é sabido, quadros de depressão podem ser disparados
por problemas psicossociais como a perda de uma pessoa querida, do emprego
ou o final de uma relação amorosa. No entanto, até
um terço dos casos estão associados a condições
médicas como câncer, dores crônicas, doença
coronariana, diabetes, epilepsia, infecção pelo HIV, doença
de Parkinson, derrame cerebral, doenças da tireóide e
outras.
Diversos medicamentos de uso continuado podem provocar quadros depressivos.
Entre eles estão os anti-hipertensivos, as anfetaminas (incluídas
em diversas fórmulas para controlar o apetite), os benzodiazepínicos,
as drogas para tratamento de gastrites e úlceras (cimetidina
e ranitidina), os contraceptivos orais, cocaína, álcool,
antiinflamatórios e derivados da cortisona.
A maioria dos autores concorda que a psicoterapia pode controlar casos
leves ou moderados de depressão. O método oferece a vantagem
teórica de não empregar medicamentos e diminuir o risco
de recidiva do quadro, desde que a pessoa aprenda a reconhecer e lidar
com os problemas que a conduziram a ele. A grande desvantagem, no entanto,
está na lentidão e imprevisibilidade da resposta. A psicoterapia
não deve ser indicada como tratamento exclusivo nos casos graves.
Embora reconheçam os benefícios da psicoterapia, a maioria
dos autores admite que a tendência moderna é empregar medicamentos
para tratar quadros depressivos. O plano terapêutico deve compreender
três fases:
1) Fase aguda: Dura seis a doze semanas, e tem o objetivo de
fazer regredir os sinais e sintomas da doença. Cerca de 70% dos
pacientes responde a esta fase. Quando não ocorre resposta, o
diagnóstico de depressão precisa ser reavaliado e, se
houver confirmação, o esquema de tratamento modificado.
2) Fase de continuidade: Nela, a medicação
deve ser mantida em doses plenas por quatro a nove meses, contados a
partir do desaparecimento dos sintomas, com o objetivo de evitar recidivas.
A descontinuação prematura aumenta o risco de recidiva
em 20% a 40%.
3) Fase de manutenção: Não tem duração
definida (pode ser mantida por muitos anos). Está indicada apenas
nos casos de depressão grave, com alto risco de recidiva ou idéias
dominantes de suicídio. Deve ser considerada nas pessoas que
tiveram três ou mais episódios de depressão, ou
dois episódios mais história familiar de depressão
recidivante, instalação dos sintomas antes dos 20 anos
de idade ou em qualquer caso com risco de morte.
Quem começa um tratamento desses deve ser alertado para o fato
de que os benefícios podem não ser aparentes nas primeiras
duas a quatro semanas. Nessa fase, em que alguns experimentam os efeitos
colaterais dos medicamentos sem notar melhora, muitos desistem do tratamento.
Muitos portadores de depressão não se dispõem a
fazer psicoterapia nem a tomar remédio. Esses devem praticar
exercício físico com regularidade (melhora o humor e a
auto-imagem) e aumentar o número de atividades diárias
capazes de lhes dar prazer. Precisam estar cientes, porém, de
que depressão é doença potencialmente grave, recidivante,
capaz de evoluir independentemente do controle voluntário.
Depressão na infância e adolescência
Depressão é uma doença crônica, recorrente,
muitas vezes com alta concentração de casos na mesma família,
que se manifesta não só em adultos, mas também
em crianças e adolescentes. Qualquer criança ou adolescente
pode ficar triste, mas o que caracteriza os quadros depressivos nessas
faixas etárias é o estado persistentemente irritado, tristonho
ou atormentado que compromete as relações familiares,
as amizades e a performance escolar.
Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão instalada na infância
ou adolescência, existe risco de surgirem distúrbios bipolares,
nos quais fases de depressão se alternam com outras de mania,
caracterizadas por euforia, agitação psicomotora, diminuição
da necessidade de sono, idéias de grandeza e comportamentos de
risco.
Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é
o mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna duas vezes
maior no sexo feminino. A prevalência da enfermidade é
alta: depressão está presente em 1% das crianças
e em 5% dos adolescentes.
Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco
da criança. O quadro é mais comum entre portadores de
doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou depois de
acontecimentos estressantes como a perda de um ente querido. Negligência
dos pais ou violência sofrida na primeira infância também
aumenta o risco.
É muito difícil tratar depressão em adolescentes
sem os pais estarem esclarecidos sobre a natureza da enfermidade, seus
sintomas, causas, provável evolução e as opções
medicamentosas.
Uma classe de antidepressivos conhecida como a dos inibidores seletivos
da recaptação da serotonina (fluoxetina, paroxetina, citalopran,
etc.) é considerada como de primeira linha no tratamento da depressão
em crianças e adolescentes. Os estudos mostram que 60% desses
pacientes respondem ao tratamento. Esses medicamentos apresentam menos
efeitos colaterais e risco de complicações por overdose
menor do que outras classes de antidepressivos. A recomendação
é iniciar o esquema com 50% da dose e depois ajustá-la
no decorrer de três semanas de acordo com a resposta e os efeitos
colaterais. Obtida a resposta clínica, o tratamento deve ser
mantido por seis meses, no mínimo, para evitar recaídas.
A terapia comportamental mostrou eficácia em ensaios clínicos,
e parece dar resultados melhores do que outras formas de psicoterapia.
Através dela os especialistas procuram ensinar aos pacientes
como encontrar prazer em atividades rotineiras, melhorar relações
interpessoais, identificar e modificar padrões cognitivos que
conduzem à depressão.
Outro tipo de psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é
conhecida como terapia interpessoal. Nela, os pacientes aprendem a lidar
com dificuldades pessoais como a perda de relacionamentos, as decepções
e frustrações da vida cotidiana. O tratamento psicoterápico
deve ser mantido por seis meses, no mínimo.
Como o abuso de drogas psicoativas e suicídio são conseqüências
possíveis de quadros depressivos, os familiares devem estar atentos
e encaminhar os doentes a serviços especializados assim que surgirem
os primeiros indícios de que os problemas da depressão
possam estar presentes.
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