O
desenvolvimento recente de estimuladores capazes de estímulos com freqüência superior a
60 Hz permitiu grande expansão nas aplicações da TMS no estudo das funções cognitivas
superiores (Cadwell, 1991; Pascual-Leone, Gates e Duna, 1991). A estimulação magnética
transcraniana pode prover informações ímpares sobre a topografia e organização
temporal do processo cognitivo humano e permite correlacionar os efeitos comportamentais
objetivos dos estímulos com a percepção subjetiva dos indivíduos.
Basicamente a estimulação magnética representa uma forma de "estimulação
elétrica sem eletrodos", que tem a óbvia vantagem sobre a estimulação elétrica
cortical por não requerer uma craniotomia. Assim, em contraste com as outras técnicas de
estimulação cortical, a TMS permite o estudo de indivíduos normais ao invés de se
restringir, por exemplo, ao estudo de pacientes que submetem-se a procedimentos
cirúrgicos para epilepsia resistente a medicamentos ou lesões cerebrais focais.
A TMS implica na colocação de uma
bobina eletromagnética em contato com o crânio. Descargas de corrente de alta
intensidade oriundas dos capacitores atravessam as espirais metálicas produzindo um
campo magnético variável com duração de 100 a 200 microssegundos. |
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O campo magnético gerado tipicamente é da ordem de 2
Tesla (40.000 vezes o campo magnético da Terra ou aproximadamente da mesma intensidade
que o campo magnético estático utilizado na clínica para imagem por ressonância
magnética). A proximidade do cérebro com o campo magnético resulta em fluxo de corrente
no tecido neural. O tamanho da corrente induzida no cérebro é aproximadamente 1/100.000
da corrente induzida. A energia usada pela TMS é por volta de um milhão de vezes menor
que a usada para o estímulo provocado pela ECT.
Um efeito visível da TMS
ocorre quando coloca-se a bobina na região craniana sobre o córtex motor. Um pulso
simples de TMS de intensidade suficiente é capaz de causar movimentos involuntários. A
intensidade do campo magnético necessária para produzir movimentos motores varia
consideravelmente entre os indivíduos e é conhecida como Limiar Motor (Tm = motor
threshold). |
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O limiar para se produzir as
reações motoras observáveis na musculatura contralateral é facilmente mensurável, mas ainda é
incerta a
relevância deste nível em outras regiões do córtex. Todavia, a maioria dos autores
utiliza como referencial este parâmetro. Por definição o limiar motor é a intensidade
mínima de estímulo capaz de produzir pelo menos 5 potenciais acima de 50 micro volts no
músculo abductor pollicis
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Dependendo da freqüência de
estimulação, intensidade e duração denominados parâmetros da TMS, os pulsos
repetitivos da TMS (rTMS) podem bloquear / inibir transitoriamente a função ou região do
córtex cerebral ou podem aumentar a excitabilidade de estruturas corticais atingidas. Por
exemplo, rTMS rápida (freqüência > 1 Hz) produz facilitação da excitabilidade
cortical enquanto que a rTMS lenta (freqüência £ 1 Hz)
produz inibição da excitabilidade cortical. (veja fig ao lado, Pascual-Leone et. Al.,
1998) |
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As desordens psiquiátricas vem sendo
progressivamente descritas em termos de disfunções a nível celular ou molecular; os
tratamentos visam alterações da estrutura, fisiologia e comportamento a longo prazo da
trama neuronal. Tradicionalmente os psiquiatras têm usado técnicas incluindo
psicoterapia, farmacoterapia e eletroconvulsoterapia para, indiretamente, atingir o objetivo
de alterar os padrões de expressão genética. Vários estudos demonstram que as
interconexões cerebrais estão implicadas na fisiopatologia de distúrbios como a
depressão, doença obsessivo-compulsiva e esquizofrenia. Austin e Mitchell enfatizaram
que disfunções da região prefrontal, particularmente a esquerda, e a dos gânglios basais
se correlacionam com a depressão. Bench et. Al. descreveram que o retorno
à normalidade
da hipoperfusão do córtex prefrontal esquerdo está associado à remissão da
depressão. |